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Pronunciamento do Centro Paradigma sobre os relatos publicadas nas redes sociais em Janeiro/2021
Caros alunos, funcionários, professores, clientes e amigos do Paradigma,
Depois de muito refletir, dialogar e buscar caminhos que nos ajudassem a, efetivamente, nos aproximar das mudanças que gostaríamos de implementar, decidimos compartilhar o nosso posicionamento sobre as postagens relacionadas aos relatos de experiências de discriminação vivenciadas na interação com o Paradigma. Além disso, queremos compartilhar o nosso plano de ação referente aos mais variados elementos envolvidos nessa complexa temática.
Todos os relatos que vieram à tona foram muito impactantes para nós. Certamente, nada comparado à dor de quem já experienciou os sentimentos neles descritos. Não foi fácil, mas pudemos mais uma vez, olhar para nós mesmos a partir de diferentes pontos de vista e perceber que a nossa casa não está suficientemente protegida da lógica do racismo estrutural sob a qual todos nós nascemos, crescemos e continuamos, infelizmente, nos desenvolvendo. Nem mesmo está imune a se tornar palco de outras formas de discriminação, contra as quais sempre acreditamos ter lutado.
O Paradigma é uma instituição complexa, constituída por inúmeras interações entre inúmeras pessoas. Em 16 anos de existência, uma infinidade de situações relacionais entre múltiplos atores, ocorre diariamente. Sempre trabalhamos para que essas interações sejam prioritariamente positivas, construtivas e acolhedoras. Tendo isso como princípio, lamentamos profundamente que interações de qualquer pessoa com o Paradigma tenham produzido sentimentos desconfortáveis a algumas delas. Pedimos desculpas por isso e por não termos sido eficazes em criar um ambiente institucional que proteja a todos desse tipo de sofrimento. Sabemos que não apenas os processos institucionais, mas também as interações sociais cotidianas carregam em seu bojo microagressões. Buscamos sempre realizar essas interações e processos de maneira justa, e sabemos que essa busca precisa ser contínua.
Nosso posicionamento sempre foi e continuará sendo de lutar contra qualquer forma de discriminação, procurando construir condições que possam, de alguma maneira, promover a diminuição da desigualdade e das injustiças na sociedade em que vivemos. O que queremos é construir relações de pertencimento e inclusão, sempre, em todos os contextos relacionais e, sobretudo, neste contexto que se apresenta de uma forma tão dolorosa para todos.
Consideramos importante 1) deixar claro que estamos nos revendo, analisando os processos e identificando variáveis que possam ter influenciado nos eventos relatados. Sempre fizemos isso, e, portanto, podemos declarar que somos uma instituição que se analisa e se transforma por meio de crítica e autocrítica; 2) que as bolsas oferecidas pelo Paradigma são integralmente financiadas pela instituição - sem apoio dos órgãos de fomento - mas isso não nos isenta de responder às exigências e critérios da avaliação da Capes para Programas de Pós-Graduação; 3) que os procedimentos estabelecidos até o momento para atribuição das bolsas distribuídas via processo seletivo, são baseados em etapas e em um regulamento público voltado ao mestrado profissional (https://www.mestradoparadigma.org/regulamento-de-bolsas-mestrado); 4) que os pedidos de bolsa são analisados por uma Comissão constituída por representantes discentes, docentes, da coordenação acadêmica, do Grupo de Trabalho em Direitos Humanos do Paradigma (GT-DiH) e da diretoria da instituição; 5) que a instituição sempre manteve a transparência em uma política para a concessão de bolsas (https://www.mestradoparadigma.org/politica-de-bolsas).
Nesse processo de auto análise, encontramos variáveis que, do nosso ponto de vista, descrevem e explicam os eventos relatados. Entretanto, sabemos que essas razões podem servir para entender o passado, mas não nos eximem de nossa responsabilidade de caminhar para o futuro que desejamos.
Estamos cientes de que o passivo resultante da história de desigualdades da nossa cultura é muito grande e que a transformação dessa realidade só será possível com ações afirmativas, mecanismos que acelerem o processo de construção de uma sociedade mais justa. Ter percebido que, apesar de todos os nossos esforços, ainda estamos fazendo parte do problema, tornou ainda mais claro o nosso compromisso, firmado por Holland (https://core.ac.uk/download/pdf/70651027.pdf) e reafirmado pela Análise do Comportamento, de fazer parte da solução.
Reconhecemos então nossa responsabilidade na manutenção da lógica de opressão estabelecida pelo racismo estrutural, pelo machismo, pela LGBTfobia e demais injustiças sociais. Este reconhecimento é desconfortável, mas necessário e fundamental para a construção de novas práticas. Afinal, entendemos que só assim conseguiremos contribuir com a nossa parte na transformação desse tipo de estrutura.
Dito isso, queremos compartilhar nosso plano de ação para efetivamente lutar contra algumas das injustiças que são historicamente perpetuadas em nossa sociedade e no nosso cotidiano. Esperamos que o aprimoramento das ações que já estão em andamento no Paradigma e as novas propostas apresentadas continuem nos guiando em direção à consolidação do Paradigma como uma instituição antirracista e comprometida com toda e qualquer inclusão social.
Ações em funcionamento e que permanecem e poderão ser aprimoradas
1. Bolsas de gratuidade total ou parcial para o curso de Mestrado Profissional que são financiadas pelo próprio Paradigma. Essas bolsas têm por finalidade o fomento à análise do comportamento aplicada nas formas de pesquisa aplicada, produção de tecnologia comportamental e promoção de inserção social e ações afirmativas (https://www.mestradoparadigma.org/edital-de-selecao-2020);
2. Duas bolsas de pesquisa para o curso de Qualificação Avançada em Clínica Analítico-Comportamental;
3. Política de bolsas para ex alunos e colaboradores com descontos de 5% a 100% em variados cursos - fluxo contínuo (https://www.mestradoparadigma.org/bolsas-de-aprimoramento);
4. GT-DiH - Grupo de Trabalho de Direitos Humanos do Paradigma, criado em 2020 (veja texto de apresentação do GT na página 17 do Boletim Paradigma 2020 (https://4686721b-396b-403e-af4e-6517ed9bef0e.filesusr.com/ugd/e08ca6_8a311404006945dc9d5c6d2bd3dfe001.pdf );
5. Inclusão de pelo menos um membro do GT-DiH na Comissão de bolsas;
6. Serviço de atendimento psicológico vinculado à clínica escola, de valor social ou gratuito para a comunidade;
7. Serviço para indivíduos com desenvolvimento atípico gratuito, vinculado à clínica escola;
8. Serviço de monitoria nos cursos de longa duração (especialização, qualificação avançada e mestrado profissional) para os alunos que tenham dificuldades no acompanhamento do conteúdo;
9. Mudança para uma nova sede, acessível para pessoas com deficiência e para a população em geral, em local de mais fácil acesso via transporte público;
10. Textos em diferentes edições do Boletim Paradigma sobre a temática, partilhando o conhecimento produzido no Paradigma com a comunidade;
11. Número especial da Revista Perspectivas em Análise do Comportamento em preparação sobre Análise do comportamento, estresse de minoria e direitos das populações socialmente vulneráveis (https://www.revistaperspectivas.org/perspectivas)
Propostas a serem implementadas ao longo dos próximos três meses
1. Abertura de canal de ouvidoria para escutar as pessoas que se sentem vítimas de discriminações ocorridas na instituição com o propósito de identificar onde e como ocorreram e de repensar melhorias. Disponível no link https://forms.gle/ku79xRiRpDHcikN9A . Este será um canal público, que garantirá o anonimato dos respondentes e que reunirá informações a serem analisadas pelo GT-DiH para o planejamento de futuras ações específicas e preventivas;
2. Criar um momento “formal” de escuta de todos os alunos da instituição que nos procuraram diretamente declarando interesse e disponibilidade em compartilhar ideias para promoção de um ambiente mais socialmente inclusivo;
3. Promover encontros "formais" de diálogo e discussão entre funcionários e professores para discutir o ocorrido neste momento;
4. Formação do nosso corpo docente e funcionários para a inclusão de pessoas com deficiência.
Propostas a serem implementadas a médio/longo-prazo
1. Revisão e aprimoramentos dos editais de bolsas e na sua comunicação para a comunidade do Paradigma e todos os demais interessados, no prazo máximo de agosto de 2021;
2. Análise e estudo dos processos e procedimentos estabelecidos até o momento para atribuição das bolsas distribuídas via processo seletivo, solicitando aos participantes a ciência de que concordam com os procedimentos e processos declarados, incluindo canal de ouvidoria para aqueles que não concordarem, no prazo máximo de agosto de 2021;
3. Levantamento de dados estatísticos do perfil da comunidade Paradigma (prestação de serviços, formação, empregabilidade entre outros) para a instituição compreender melhor a quem ela está atingindo, início previsto para o primeiro semestre de 2021;
4. Treinamentos e cursos de formação para alunos, docentes, associados, diretoria e funcionários sobre inclusão, diversidade e neurodiversidade, preconceito, feminismos, LGBTfobia, racismo estrutural e institucional, branquitude, inclusão da pessoa com deficiência e qualquer outro tema que venha a ser relevante, como forma de ampliar a educação e o entendimento sobre esses temas, início previsto para o primeiro semestre de 2021;
5. Revisão das grades curriculares dos cursos do Paradigma em todos os níveis de formação para incluir literatura e pontos de discussão relevantes sobre a temática das discriminações e desigualdades, início previsto para o primeiro semestre de 2021;
6. Buscar e implementar estratégias para ampliar a captação de recursos financeiros que auxiliem a instituição não só a prover mais bolsas de ação afirmativa para grupos minorizados, mas também a diminuir os valores dos cursos para os demais interessados, pagando os professores com valores dignos a seus trabalhos e competências, início previsto para 2021;
7. Buscar firmar parceria com o CEERT – Centro de Estudos de Relações de Trabalho e Desigualdade para nos auxiliar na implementação das propostas, início no primeiro semestre de 2021;
8. Criação de comitê de ética tanto para pesquisas quanto para outros processos e procedimentos da instituição. Este comitê será formado por profissionais que atuem no Paradigma (professores, alunos e funcionários) e pessoas alheias às atividades do Paradigma, membros da comunidade do nosso entorno, com início no primeiro semestre de 2021;
1. Incluindo a criação de um canal interno de denúncias, mediado por um terceiro - alguém que não tenha envolvimento direto com a instituição, seja como aluno, professor, funcionário ou prestador de serviço - como forma de ouvir os alunos, docentes e funcionários, além de implementação e/ou manutenção de investigações sobre as outras ações;
Sabemos que todas essas ações são importantes e que ainda teremos muito a fazer. Nos mantemos, como sempre, abertos ao diálogo e a sugestões de ampliação e aprimoramento destas e de outras ações.
Despedimo-nos, momentaneamente, de vocês, declarando os melhores e maiores votos de uma Sociedade mais igualitária, fraterna e liberta!
Com respeito,
Associação Paradigma